segunda-feira, 29 de abril de 2013

REPORTAGEM - De olho na Lei

Diálogos Com o Judiciário

Qual o corte etário adequado para o ingresso no Ensino Fundamental?
Na última década o sistema de Justiça (Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria) consolidou-se como importante ator na garantia do direito à educação infantil. Ao mesmo tempo, no entanto, a crescente judicialização da educação apresenta riscos para este direito. Recentes decisões judiciais vêm causando desconforto nos sistemas de ensino, pois confrontam acúmulos teóricos e institucionais do campo educacional, expressos em pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Podemos citar um caso preocupante e de grande impacto sobre as redes de educação infantil. A antecipação judicial do ingresso de crianças de 5 anos no Ensino Fundamental. Contrariando praticamente a unanimidade de pesquisadores e instituições educacionais, assim como o CNE ( Resoluções nº01/2010 e 06/2010), o Judiciário vem suspendendo por meio de seguidas decisões, em ações coletivas e individuais, o corte etário para ingresso no 1º ano de ensino fundamental, estabelecido nacionalmente como 6 anos de idade completos até o dia 31 de março do respectivo ano letivo, e determinando a matrícula de crianças menores desde que comprovada a “capacidade intelectual”, a ser aferida por profissional de psicopedagogia.

Tais decisões desconsideram que o corte etário não é mera imposição legal, mas se justifica no estágio do desenvolvimento das crianças e, sobretudo, na importância de assegurar o direito à educação infantil. Também desconsidera questão proibidas avaliações meritocráticas para o acesso ao Ensino Fundamental e que a incorporação dessa lógica produtivista não respeita o interesse das crianças e põe em risco seu direito à infância e ao brincar.
Para que o sistema de Justiça continue atuando no fortalecimento dos direitos educacionais será necessário estabelecer diálogos como campo educacional. Aos educadores também cabe construir esses espaços de diálogo, ou continuarão na defensiva, sendo surpreendidos com decisões judiciais aparentemente sem sentido.




Salomão Ximenes, advogado e mestre em educação, é assessor da ONG Ação Educativa
Revista ei- Educação Infantil- Ed. Segmento
www.revistaei.com.br

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